Pediatra? Clínico geral? A dúvida sobre qual médico procurar para adolescentes é recorrente e deixa muitas pessoas em dúvidas. A fase é de mudanças extremas. Portanto é importante que o adolescente encontre acolhimento no médico para as questões hormonais e mentais do início da vida adulta.
Antes de mais nada, é importante iniciar essa conversa com a resposta ao questionamento inicial: qual o médico procurar para adolescentes? O especialista é chamado de hebiatra e é especializado nos conflitos da fase.
Apesar da nomenclatura não ser muito popular, a hebiatria integra o curso de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), desde 1974. Os futuros médicos que optarem por essa carreira estudam dois anos de pediatria e mais dois anos em medicina do adolescente.
Então, depois de quatro anos de dedicação, ele tem uma especialização (ou seja, não é pediatra e nem clínico geral) focada nos temas centrais da puberdade. Nessa fase é comum que ocorra uma série de dilemas do início da vida adulta, como vida sexual, menstruação, crescimento e as modificações gerais do corpo.
Sexo e mudanças
As doenças mais comuns entre os meninos adolescentes
Por que homens não vão ao médico
Qual médico procurar
Quando procurar
Além disso, as oscilações hormonais se tornam constantes, bem como a necessidade de se trancar no quarto sozinho. O período pode trazer conflitos para as famílias e o descontrole emocional do adolescente incompreendido.
Então, para a paz inicial a palavra de ordem é empatia. O momento é de hormônios pulsantes e, dessa forma, as mudanças de humor podem ser corriqueiras.
Nesse contexto, priorizar a saúde mental do adolescente é um ponto de partida importante de todo o processo. Sabendo disso, esqueça o conceito de “aborrência” usado como regra em gerações passadas.
Os conceitos defendidos por especialistas mostram que criação com apego é o caminho do sucesso. Nesse contexto, a conversa é o único ponto possível de criação e o diálogo a alternativa para conter conflitos.
Esses processos têm sido cada vez mais intensos e precoces. Isso pode ocorrer por excessos de informações, estímulos e alimentação. Outro ponto apontado por especialistas que levaram ao crescimento da puberdade precoce foi a COVID-19.
O aumento de peso e a exposição constante às telas aceleraram o processo em muitas meninas e meninos.
Hebe, a deusa grega da juventude, serviu de inspiração para o nome da especialidade, que existe desde 1974 — seu primeiro curso surgiu em São Paulo, na Faculdade de Medicina da USP, difundindo-se no Rio e em outras partes do país. Para receber o título de hebiatra, o médico precisa cursar dois anos de especialização em pediatria e mais dois de especialização em medicina do adolescente. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a adolescência vai dos 10 aos 20 anos.
Embora os pais possam participar das consultas, seu protagonista é sempre o adolescente. Além disso, o paciente tem direito ao sigilo, à confidencialidade e à privacidade. “Deve-se reservar uma parte da consulta para o adolescente ficar sozinho com o médico, momento fundamental para que ele possa receber orientações sobre a puberdade e conversar sobre assuntos de seu interesse”, diz a hebiatra dra. Lígia Queiroz.
A médica hebiatra também alerta sobre o papel do exame físico. ” Ele é muito importante para a detecção de agravos, de doenças não identificadas pelo paciente e sua família, como por exemplo varicocele nos pacientes do sexo masculino, desvios de coluna e hipertensão arterial, entre outras. Apenas por meio do exame físico é possível elaborar diagnósticos sobre o crescimento físico e o desenvolvimento puberal.”
Sexo e mudanças
Segundo Queiroz, as principais queixas dos adolescentes são: a preocupação com a estatura, peso e forma corporal (medo de não se desenvolver adequadamente); os temores de ser diferente dos amigos; acne; alterações menstruais (cólica menstrual – dismenorreia); problemas de coluna (como escoliose) associados ao estirão de crescimento; ginecomastia (crescimento transitório da glândula mamária no adolescente do sexo masculino); atraso puberal; sobrepeso e obesidade; e problemas alérgicos, como asma e rinite alérgica.
Ela explica que a adolescência é marcada por três perdas significativas: a do corpo infantil; a da identidade e papel infantis; e a do tratamento dado pelos pais na infância.
Além desses lutos, que devem ser elaborados, os adolescentes reúnem algumas características típicas da faixa etária, como oscilações de humor, vivência temporal singular, tendência de se reunir em grupos, sensações de invulnerabilidade, onipotência e imortalidade, entre outras. Alguns adotam um comportamento de risco no que diz respeito à proteção durante as relações sexuais e à experimentação de drogas. E daí surgem as consequências nocivas, como mau rendimento escolar, excesso de tempo gasto no celular ou computador, instabilidade emocional etc.
Cabe ao hebiatra avaliar até que ponto os problemas são graves e devem ser analisados por outros especialistas. A sexualidade, em especial, deve ser tratada com naturalidade, e o especialista tem que se sentir à vontade para conversar sobre o assunto, já que, segundo Queiroz, os adolescentes sempre têm muitas dúvidas sobre sexo. “Eles querem saber mais informações sobre masturbação, a primeira relação sexual, a identidade sexual, as experiências homossexuais, a escolha do método contraceptivo, têm medo de sentir dor, contrair doenças e engravidar.”
Para o médico hebiatra, a sexualidade faz parte do processo evolutivo da vida, e, em geral, dos 10 aos 13 anos, está mais voltada para a curiosidade em relação às transformações corporais; entre os 14 e os 16 anos surgem a curiosidade pelo novo e o interesse pelo outro; e entre os 17 e os 20, estabelece-se a identidade sexual com relacionamentos mais maduros.
“Identificar o momento em que o adolescente está em seu desenvolvimento sexual ajuda o médico de adolescentes a abordar as questões de prevenção de gravidez e DSTs e possivelmente a auxiliá-lo na tomada de decisões a respeito do início da atividade sexual, a entender a implicação psíquica dessa vivência em fases muito precoces da adolescência e a encorajá-lo a assumir as responsabilidades pelo cuidado com seu corpo em busca de um exercício sexual saudável e feliz”, conclui a hebiatra.
Mudanças no corpo, explosão de hormônios e muitas dúvidas sobre uma infinidade de assuntos. A adolescência – fase da vida que se entende dos 10 anos aos 19 anos – é um período peculiar e importante no qual ocorre um rápido desenvolvimento físico, cognitivo, social e sexual, trazendo consequências diretas para a vida adulta.
Mas, apesar disso, os cuidados com a saúde nesse período frequentemente são negligenciados, especialmente entre os meninos. Médicos urologistas relatam que o dia a dia do consultório revela a ausência dos guris dessa faixa etária. Enquanto as meninas são levadas ao ginecologista tão logo entram na puberdade, elas passam anos a fio desassistidas.
Nesse sentido, o adolescente entra em uma zona de ausência de assistência médica. Via de regra, na puberdade, o menino fica desassistido. É cultural levar as meninas ao ginecologista nessa fase, mas o paralelo do menino com o urologista não existe – aponta o urologista Daniel Suslik Zylbersztejn, especializado em reprodução humana e membro da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).
Não há dados no país que comprovem essa impressão mas, conforme estimativa da SBU, o índice de idas ao médico entre os jovens brasileiros possivelmente se aproxima do registrado nos Estados Unidos – afinal, a dificuldade do sexo masculino de ir ao médico é uma realidade no mundo todo. Por lá, as visitas ao urologista, na maioria das vezes (43%), são em decorrência de algum problema crônico. Em contrapartida, as mulheres que vão ao ginecologista por prevenção somam 71%.
– Menino consulta se tem uma questão intercorrente: quando surge uma doença ou algo do gênero. Dificilmente o pai leva o menino para fazer uma avaliação – afirma Ernani Rhoden, professor de Urologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
A hebiatra Lilian Day Hagel, integrante do Departamento Científico de Adolescência da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), entende que a busca por assistência médica por parte dos meninos existe, o que falta é uma especialidade de referência.
– Se pensarmos nos ambulatórios e nos consultórios, há procura de serviço especializado por ambos os sexos. O que acontece é que os meninos têm menos possibilidade de acesso porque a referência no atendimento às meninas é o ginecologista, e essa relação com o urologista não é tão fácil – aponta a médica, que atua na Unidade de Adolescentes do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e na coordenação do Serviço de Adolescentes do Grupo Hospitalar Conceição.
Para reverter esse quadro e aproximar os meninos da urologia, a SBU possuiu uma campanha: #VemProUro. Na qual, médicos das diversas seções estaduais da SBU realizam palestras de orientação em escolas, hospitais e em lugares frequentados por adolescentes.
– Nessa fase, em que os adolescentes se distanciam dos pais, muitas vezes quem vai ajudar o menino é o melhor amigo, que sabe tanto ou menos do que ele. Ele sente falta de uma presença médica que possa colaborar a promover saúde, evitar acidentes e ouvir dúvidas que surgem nessa etapa conturbada de transformações físicas e hormonais.
O médico pode detectar alguma fragilidade relacionada à parte social do adolescente, como ele se relaciona com a família, se está suscetível ao uso de drogas, álcool ou cigarro. Ir ao urologista não é piada. Deveria ser rotina desde os 13 anos e não só na presença de doenças no trato geniturinário – alerta Zylbersztejn, coordenador da campanha.
As doenças mais comuns entre os meninos adolescentes
- Varicocele:
Dilatação nas veias dos testículos que é a causa mais comum de infertilidade – está presente em cerca de 20% a 25% da população masculina em geral. Tratável, a doença não apresenta sintomas e só é detectada com exame físico dos genitais.
- Tumor no testículo:
Câncer mais comum entre homens de 20 a 40 anos, tem como principal sintoma o aumento do volume da bolsa escrotal ou a palpação de um “caroço” no testículo. Mais de 95% desses tumores são curáveis. Meninos, pais e mães devem ficar atentos a esse sinal, pois, quanto mais cedo for feito o diagnóstico, mais simples os tratamentos.
- Fimose:
Consiste em um anel de constrição na pele que recobre a glande do pênis (prepúcio), dificultando ou impedindo a exposição da glande (cabeça do pênis). Os sintomas, em crianças, podem ser infecções locais e urinárias, em razão da dificuldade de higienização do local, e até mesmo problemas para urinar.
- Balanopostite:
Processo inflamatório que ocorre no pênis e afeta a glande e o prepúcio. A causa mais comum é uma infecção aguda causada pelo fungo cândida albicans. Não é uma DST, pois pode ser transmitida sem a realização de penetração, embora o casal possa compartilhar o fungo durante o ato sexual. O tratamento é feito com cremes tópicos e medicação via oral.
- Ejaculação precoce:
É caracterizada pela ejaculação que ocorre sempre, ou quase sempre, quando o tempo desde a penetração vaginal até a ejaculação passa a ser insatisfatório para o homem ou para o casal. No jovem, a causa costuma estar relacionada à ansiedade e à inexperiência do ato sexual. O tratamento é realizado basicamente por meio de psicoterapia sexual e de farmacoterapia.
Por que homens não vão ao médico
A baixa presença de meninos e homens nos consultórios médicos é permeada principalmente por questões culturais.
– O que se vê é a contracepção e a reprodução delegadas como questões femininas. O homem tem uma participação como coadjuvante, não de pessoa diretamente vinculada. A mulher faz exames pré concepção, planeja a prole, faz exames de rotina. Dificilmente o homem faz isso. Ele só procura o urologista quando o casal tenta engravidar por muito tempo e não consegue. Isso passa, necessariamente, por uma questão cultural e de informação, que deveria ser incorporada de maneira mais objetiva nos currículos escolares – sugere Ernani Rhoden, professor de Urologia da UFCSPA.
Contudo, a psicóloga Denise Quaresma da Silva, pesquisadora da Universidade Feevale, vê nessa situação o reflexo de uma raiz muito forte do patriarcado, que defende que homens não precisam de educação sexual, que são viris, destemidos e têm um quê de “super-herói”.
– Ele não adoece, afinal, é homem. Se o menino tem uma dor de garganta, é “só uma dorzinha”. Agora, se for uma menina, precisa ir ao médico porque ela é frágil – exemplifica.
Trabalhando com educação sexual e gravidez na adolescência, a psicóloga encontrou informações importantes sobre o tema nas escolas:
– Na pesquisa que realizei, aparece muito que as professoras dizem que a educação sexual deve ser dirigida para as meninas, afinal, são elas que engravidam. Mas o menino também faz parte dessa relação.
Os especialistas defendem que a gravidez na adolescência deve ser um tema que envolva também os meninos.
– Tem de fazer com que o homem participe disso desde sempre. As pessoas não têm a percepção de que o uso do preservativo é para se auto preservar. Homem que exige preservativo não mostra fraqueza, mostra poder de querer se cuidar – diz a hebiatra Lilian Day Hagel.
Qual médico procurar
Além do urologista, os meninos (e, nesse caso, também as meninas) podem consultar pediatras especializados no atendimento dessa faixa etária, os hebiatras. De acordo com Lilian Day Hagel, esses profissionais costumam fazer uma avaliação de oito áreas da vida do jovem: moradia, educação, hábitos alimentares, atividades, uso de drogas, sexualidade, segurança e suicídio/humor. Havendo qualquer discrepância em uma delas, o profissional pode requisitar ajuda de outro especialista.
– O hebiatra tem treinamento para avaliar essas questões e montar o perfil de cada paciente. Dentro das atividades, destaco a questão do abuso das telas: meninos passam horas em frente à tela. Isso pode trazer prejuízos físicos como miopia, escoliose, infecção urinária, constipação, anemia, maus hábitos alimentares etc. Outra é o ciberbullying – fala a hebiatria.
Quando procurar
A recomendação é que adolescentes visitem o médico uma vez por ano para fazer uma avaliação geral da saúde. Na vida adulta, Rhoden reforça que a rotina de visitas ao médico deve se manter com a ideia de avaliar a saúde global. A partir dos 45 anos, homens com histórico familiar de câncer de próstata e afrodescendentes devem fazer exames preventivos. Caucasianos e sem histórico familiar devem fazer a partir dos 50.
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